TOC: “E se...?”
- Isadora Fajardo
- 13 de mar.
- 3 min de leitura
E se a porta ficou aberta? E se a lâmpada ficou acesa? E se eu não fiz tudo certo? E se, ao sair de casa, algo terrível acontecer porque eu não cheguei a verificar mais uma vez se fechei a porta?
Para quem tem Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), as perguntas como essas não são apenas curiosidades passageiras, elas são insistentes e intensas. A mente começa a se repetir, e uma dúvida simples vira um labirinto sem fim de “e se…?”. A sensação de que, se não fizer exatamente o que a mente manda, algo vai sair do controle, é constante.
Imagina que, ao terminar de lavar as mãos, você sente um alívio momentâneo. Mas logo vem o pensamento: "E se eu não lavei direito? E se algo de ruim acontecer?" Então você lava as mãos de novo, e de novo. A sensação de ter resolvido algo logo se transforma em um novo “e se?”, e o ciclo recomeça. Não é sobre estar limpo, é sobre a insegurança de que algo muito ruim pode acontecer se não seguir as regras da mente.
E o que dizer do “e se” que surge na cabeça de quem arruma a casa? Tudo parece estar no lugar. Mas logo vem o pensamento: “E se eu não arrumei de maneira exata? E se, por um erro imperceptível, algo vai dar errado?” Isso não é sobre gostar de organização ou prezar pela perfeição. É sobre a sensação de que qualquer descuido pode desencadear uma catástrofe emocional, mesmo que ninguém mais perceba o erro.
Às vezes, as obsessões podem ser sobre temas mais sombrios: “E se eu machucar alguém sem querer? E se, ao pensar em algo horrível, eu acabar fazendo isso de verdade?” A mente vai criando cenários catastróficos, onde qualquer pensamento ou ação, por mais inocente que pareça, pode ser perigoso.
Essas obsessões, repetidas de forma incessante, não são fáceis de controlar. Ao tentar afastá-las, surge uma necessidade de AÇÃO. Fazer algo, seja tocar um objeto, contar algo, verificar mais uma vez, para garantir que o pensamento "errado" não se transforme em algo real. Mas a verdade é que essas ações não trazem paz. Elas só alimentam o ciclo.
Quem vive com o TOC sabe que, por mais que se repita uma ação, ela nunca é suficiente. A necessidade de fazer de novo, de garantir que tudo está "perfeito", é uma sensação constante e angustiante. “E se não for o suficiente? E se o erro passar despercebido, mas tiver consequências devastadoras?”
É esse ciclo de “e se” que toma o controle, criando uma ilusão de que, ao se curvar à repetição, o controle será restaurado. O TOC é uma tentativa desesperada de encontrar segurança em um mundo que não pode ser totalmente controlado. É uma estratégia da mente para enfrentar um medo que nunca encontra repouso. No fundo, cada repetição só reforça a ansiedade e a insegurança.
A boa notícia? Podemos aprender a ver esses "e se" por aquilo que realmente são: apenas pensamentos. Eles não têm poder real sobre nós, a não ser o poder que lhes damos. Ao entender que o controle nunca vem da repetição, mas da aceitação da incerteza, podemos começar a quebrar o ciclo.
Então, da próxima vez que a mente perguntar "E se...?", respire fundo. O "e se" não define o que é real. Não precisamos viver na prisão do "e se", porque a verdade é que a vida não é sobre ter todas as certezas e respostas, mas saber conviver com a dúvida sem que ela nos consuma.
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