Desmistificando o termo "Bipolar"
- Isadora Fajardo
- 7 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de abr.
De todos os termos psiquiátricos, talvez “bipolar” seja o mais usado fora de contexto. E é sobre isso que quero falar nesse texto.
A filha adolescente que muda de humor do nada, o chefe que cada dia pensa diferente, o namorado que fica de cara feia quando o time perde e depois volta a sorrir se ganha… essas oscilações de humor, apesar de parecerem “instáveis”, não necessariamente têm relação com o Transtorno Afetivo Bipolar.
Na verdade? Muito provavelmente essa galera NÃO é bipolar.
Transtorno Afetivo Bipolar é um transtorno psiquiátrico grave, marcado por episódios de desregulação do humor e isso vai muito além de uma simples mudança de humor.
O humor normal é reativo e sintônico. O que significa isso?
Reativo: ele responde aos estímulos do ambiente.
Sintônico: essa resposta é coerente com o contexto.
Por exemplo: você passa num concurso. É normal sentir-se feliz, animado, empolgado. Seu humor reagiu à notícia e está em sintonia com o momento vivido.
Já no Transtorno Afetivo Bipolar, essa regulação do humor está prejudicada. Os episódios de mania ou depressão surgem de forma desproporcional ou até sem motivo aparente e causam prejuízos reais na vida da pessoa e de quem está ao redor.
Características do Episódio de Mania
Esse é o episódio que mais caracteriza o transtorno. Alguns sinais:
Pensamentos acelerados, sensação de “mente a mil”
Irritabilidade ou euforia exagerada
Grandiosidade: sensação de ser especial, poderoso, imbatível
Impulsividade: gastos excessivos, direção perigosa, comportamentos sexuais de risco
Dificuldade de manter o foco, distração fácil
Redução da necessidade de sono (e não é cansaço acumulado não é energia sobrando mesmo!)
Em casos mais graves: delírios (ideias falsas) e alucinações
Quando esses sintomas aparecem de forma mais leve, chamamos de hipomania.
Características do Episódio Depressivo
No outro polo, temos os episódios depressivos, que também fazem parte do transtorno bipolar:
Tristeza persistente
Falta de interesse ou prazer nas atividades
Sensação de inutilidade ou culpa excessiva
Pensamentos de morte
Alterações no sono (pra mais ou pra menos)
Redução da produtividade e da capacidade de concentração
A doença é grave, sim. E com potencial de grandes prejuízos. Não à toa, é considerada uma das principais causas de incapacidade entre pessoas de 15 e 40 anos no mundo.
E mais: se não tratado, o transtorno tende a piorar, com episódios cada vez mais frequentes e intensos.
Viu como o termo “bipolar” carrega um peso e uma complexidade que vão muito além do uso comum no dia a dia?
Chamar alguém de bipolar só porque está de mau humor hoje e sorrindo amanhã, além de impreciso, pode contribuir pra desinformação e estigmatização de quem realmente convive com o transtorno.
Psicoeducação é tudo, né?
Conhecer, entender e falar com responsabilidade pode fazer toda a diferença.
Quem sabe esse texto não te ajuda a olhar com mais empatia… ou até identificar algo que mereça uma avaliação mais cuidadosa?
Legenda da foto: O contraste, o ruído visual, nos convida a olhar além da aparência e abandonar rótulos apressados — como o uso indiscriminado do termo “bipolar”.
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